pelo pouco do pouco que me sobraram
há quem diga que sou crônica
há quem diga que sou conto
desconfio ser um faz-de-contas inacabado
sou castelo de cartas de baralho,
erguido por uma criança entediada
sou castelo de cartas de baralho,
sempre esperando o vento atrasado
sou o que sou, canção descompassada
fiz do pôr do Sol um retrato na parede
com gosto de café amanhecido
sou sempre o que vai, vai, vai...
sentido único
quieto
sozinho
há quem diga que sou poema
há quem diga que sou prosa
mas sou mesmo uma piada
sou não-abraço
palavra que nunca será pronunciada
sou pouco, muito pouco
do pouco que me sobraram...
Era sabedora de suas virtudes
E dona de seus desejos
As coisas tinham que ser muito miúdas para lhe escaparem.
Ora tirava a lua para dançar,
Com seu vestidinho rodado a bailar,
Não se importava se a lua, tinha par
E em tempos era tão tímida
Que nem a noite vinha saudar
Observava por infinitos segundos
O mundo que girava em cores
Distinguia perfeitamente as matizes afloradas
Dos sentimentos naturais
As coisas tinham que ser muito miúdas para lhe escaparem.
Às vezes esquecia suas preces, por querer,
Por querer deixava-se pecar
Conhecia muito bem seu carteado,
E simplesmente fingia ser livre... pois não acreditava na evolução
(o homem que andava de quatro agora caminha sobre os pés!)
Ela sabia,Deixou sinais,
- de quase silêncio –
Que a alma, encerrada, mesmo em um corpo são, já é domesticda!
Ela brincou de roda no quintal de casa
Enfeitado os seus cabelos de cachos estavam,
Com uma pendente rosa amarela, de repente...
Se despiu...
Se despediu...
Fecho o portão do quintal... saiu
Não olhou para trás...se foi...nem um sorriso deixou
Assim é melhor,
Sorrisos são hipócritas nas despedidas.
Tão grande era seu olho que somente um lhe bastava!
As coisas tinham que ser muito miúdas para lhe escaparem.
Acho...
Que por isso ela não percebeu meu amor...
...melhor assim.
E a combustão do caos, que fagulha intelectual, a atiçará?
E a fala cômica do palhaço mímico, em qual nave auricular ecoará?
E o aplauso dos aflitos, neste teatro de piedades, aconteceria de pé?
E o rato salteador de amores, onde roerá?
E a peçonhenta serpente da inveja, sem muda de pele e de bote silencioso,
onde inoculará?
E a vizinha em dança cínica, perfeita bailarina no coito, onde insinuará?
E o lobo de sorriso lascivo, o charme é sua armadilha e a solidão sua virtude,
qual a presa que virá?
E a mãe com sua crença crítica, edificando templo de fantoches, a que deuses oferendar?
E a palavra na crosta seca do céu da boca do sábio, quando brotará?
E o homem tradutor da vergonha, com sua pena e tinta já encheu mais mil pergaminhos,
e seu compêndio servirá?
E a lança da coragem em riste, em qual coração deve cravar?
E a cachaça que arma a tenda de todo este circo, nem precisa purificar!
para que pudesse recompor toda a força da sua infância
mesmo não sabendo quando... se entre versos ou rimas
ou se no silêncio daquelas reticências
medida do tempo que agora vivia...
por não saber se algum dia conseguiria
é que ele continuava sempre a escrever...
escravo do tempo, do silêncio e da beleza do rosto daquela mulher...
até os dizeres mais corretos feitos de carvão
se entortam quando escritos sobre um muro de chapisco...
"... já que nasci louca,
Anjo de grandes lábios roxos e possuidor de ancas em deleite...
Pairando assexuadamente em um céu de olhos róseos...
com toque que mescla a amargura do amanhecer e a orgia explicita no crepúsculo
eram digitais sem ex(impressões)
... como se fosse tirana...por vingança desceu à terra...
E seus pés tocaram a grama do jardim da salvação, calmos como o olho do furacão
vagou em trejeitos lascivos com a boca aberta e a espreita
... como se fosse pura...para se sujar colheu a flor da perdição...
Bem vinda ... noite
Espectro de charme e matizes misteriosos,
que envolve como chuva ácida,
descaracterizando o caráter, a razão e os desejos.
Perdeu-se, de joelhos, como uma gata cega e prenhe de desejos
Fuçou os lixos das mansões entristecidas
Descolou a retina no salto além da luz
Miou alto dentro das orgias
Caprichosamente se banhou entre línguas
Não se iluda! Nas madrugadas etílicas todas as gatas são pardas...
E suas verdades elas enterram em suas caixinhas de areia... pela manhã.
.
queixa você da vida
queixa você do amor
quando nada disso prende tua atenção,
queixa você dessa canção...
qual pedra rola ladeira
se desfazendo a si mesma
e de qualquer certeza
do que venha a construir.
quede seus sonhos?
que de tantos, se perderam...
talvez estejam perdidos
Com a concha que construímos com nossas mãos
Bebemos a água da nascente
Tocamos a vida...
Que nasce eterna por entre nossos dedos
Bebemos o segredo dos homens
Sem ao menos desejarmos tal coisa
Bebemos a sede da nascente
Que corre eterna por entre nossas vidas
Tocamos a água...
E bebemos a sede dos peixes.
E na margem dessa fonte,
Há uma sempre flor qualquer que nasce e morre,
Sendo e nunca deixando de ser exatamente o que é.
Pensando em como seria bom ter outra vida
Eu vejo o mundo pelos olhos estropiados
Boca torta, barba por fazer, perfume barato
O mundo não pára quando a gente pende a perder
Viver é apostar, é impar vermelho.
Em uma caixa de sapato guardo meu amor
E meus sonhos cansados em outra de isopor
Meu silêncio é um grito acumulado
Presente de todos os dias dos dados
Presente da vida de quem não tem o que fazer
Viver é perder, é impar vermelho.
Mas eu continuo vendo o mundo detrás do espelho
Procurando no inverso alguém que me pareço
E enquanto eu tento enganar o tempo
Vivendo sozinho como estou vivendo
Seguro os dados e os lanços para frente
Viver é um vício, é impar vermelho!
repetindo minhas manhãs
feito cantar de passarim quando pega gosto de voar
quando chega a noite,
só para cobri-los serena com o manto das estrelas...
.
Horas, dias, anos,
Um pouco, mas bem pouco, de eterno
Quase sempre só,
E só, procurando sempre... um herói
E tentando transformar quem quer que fosse, ou que acreditasse que pudesse ser, ou que a esperança achasse que seria...
E nunca, nunca eles foram...
Não por incompetência deles
PAI, AVÔ, JESUS, JIM, NIETZCHE,...
E tantos outros a quem entregamos a culpa, o medo, frustrações, decepções, ou todo o nosso fardo ou tudo que nos limita,
E que eles, heróis
se encarregassem de nos libertar
Tantos anos à procura
Tantos anos decepcionado
Houve entrega, crença.
E os heróis
Sempre e sempre falhando
Houve tempos que excomunguei um por um
Na tristeza ou na essência da incredulidade
Mando a merda todos os heróis...
Estanquei a procura, matei-os
Transformei no maior arquiinimigo
Iniciei a gestação meu “EU” herói
Assim me vinguei mais feliz
E consigo caminhar sozinho
Com as minhas glórias.
.
Pense como seria...
Se em algumas verdades houvesse mentiras
E se todas as mentiras em algum momento não fossem de verdade
Pense como seria.
Pense como seria...
Se em um mundo de águas as lágrimas não brotassem de uma amargura da alma
E se a alma virasse sertão, onde choveria, mesmo que em mínima pluviosidade,
as lágrimas da felicidade
Pense como seria.
Pense como seria...
Se em dias que se entedia, se estendia o dia
e ao homem em um jardim, viesse a privação de uma rosa que tendia
E para a rosa, em um só jardim, minguasse a admiração de um único olhar do homem
Pense como seria.
Pense como seria...
Se existisse razão em um sorriso
E se para um sorriso necessitasse a existência de uma razão
Pense como seria.
Pense como seria...
Se no medo da incerteza, não tivesse intrínseco a certeza do medo
e se no medo de se estar certo, não ocorresse a incerteza de se errar
Pense como seria.
Pense como seria...
se o tempo em determinado momento se esgota
como seria se não existisse reticências
Pense como seria...