Entre o explicável
E o não dito
Entre os dedos
E o que fito
Entre o longo do tempo
E o infinito
Entre o palpável
E o que sinto
Entre o amável
E o compreendido
Entre o distanciável
E o que aproximo
Entre o interminável
E onde findo
Entre o abominável
E o lindo
Eis que surge, alma, corpo, sorriso
Seu doce espírito
.

... tu és tudo o que eu não acredito e de tudo o que aceito, és o que eu não entendo.

tu és o silêncio do velho poeta, que em teu leito de morte agoniza por não sentir mais dor. tu és a obra inacabada do pintor. tu és esta caneta que eu seguro, cuja tinta se esvai num segundo... como uma ampulheta nova. tu és supernova. tu és nuvem vista daqui de baixo. és louco amarrado, amordaçado e dopado. tu és o silêncio na lápide do meu avô, ou a flor que brotou ao lado da sua jazida. tu és do andarilho, a ida.

... tu és tudo o que não entendo e de tudo o que acredito, és o que eu não aceito.

tu és mulher bonita a olhar-se no espelho. és livro antigo, páginas amareladas, cuidado imenso. tu és sorriso sem riso. lágrimas sem choro. aceno sem despedida. tu és a gilete que corta o pulso do suicida (jorra sangue sem barulho). do sonho, és o ar que eu respiro e da realidade o suor que eu transpiro.

... tu és tudo o que não aceito e de tudo o que entendo, és o que eu não acredito.
.

... o amor não deveria ser um sentimento e sim um meio para descobrirmos a vida... deveria ser para os homens assim como são, por exemplo, as asas para um passarinho...

A língua muda, muda de saudade, a rotina muda, mudas de derme
O pensamento inunda ou imunda a cidade, muda ou muda?
Muda qualquer coisa, um passo à frente e já se muda
Muda a fisionomia, onde, a tristeza (é) muda
A escuridão uma muda, entre as coxas, o amor muda
Sob a intensa luz a retina muda, com o sol muda a chuva
E a muda com chuva muda
É por ti, mulher muda, que mudas as fases da lua
Muda qualquer coisa?
Qualquer coisa muda?
A surdez muda, ao lânguido grito do vosso amor
Em teu colo, planta-se um muda, de meu humor que muda
E da poderosa excitação muda
Ao ver-te, breve simpatia, muda de anjo e sem apelo,
Por ti, meu sorriso muda.

... escondo-me nas palavras que eu escrevo, como a lua, de dia, se esconde dos seresteiros... saio à rua apenas para beber o seqüestro da vida, das coisas que eu tinha, mas que não me pertenciam... em grandes goles de auto-confidência e desespero, bebo por lembrar que desejei ser grande demais dentro de um abraço que não me cabia... eu queria aquela manhã amanhecida, não este poema... não estas rimas vazias onde se esconde a minha covardia.

As noites mais frias

Se tornam as mais tristes e infindas
Logo se perde o tato no mundo só.

Do que serve milhares de olhos cegos!

... se cala os dedos perante o vazio que se inicia... como se a falta da flauta doce deixasse amarga o descor do vento... se perde, ao encontrar o amor que havia jogado fora dentro de alguma saudade esquecida... se faz perdido... repetitivo... e a felicidade é uma concha aberta com retalhos coloridos...

Não adianta chorar sob a chuva
Não adianta amar a lua
Porque não são suas lágrimas
Que elevarão as marés.

... da última vez que ele chorou saiu terra dos seus olhos e nos sulcos do seu rosto sedimentou-se feito chão batido as mais sinceras lembranças de amor. Massapê seu olhar agora fugia longe. Sob seus pés um caminho se enxergou antes impossível com seus olhos de nuvens e coração rio que nunca acariciou o mar. Quando antes, diante do Sol, fechava olhos e abria braços para imaginar outras coisas calorosas, de aconchego confortante e com gosto de rimas... como se não bastasse o Sol... e com as pontas dos dedos entre lábios ele tocou suas palavras que escorriam pelos olhos afora. Sua alma dançou frente a mais um poema. E fez assim última notícia sua que, breve instante antes de chorar, veio ele a perceber que não há sonhos que resistam ao apagar das estrelas...

Frio é o sol que ilumina seu íntimo
E não consegue queimar a dor
Apenas derrete a máscara

A vida, grande cópula
Sob iglus decorados
Com pinturas abstratas.



... quando nos sentimos sós, o pôr do Sol não passa de um quadro na parede
com gosto de café amanhecido...


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