dedicado a S.H.

... aquela menina sonhava tanto que chegava a tropeçar nas nuvens do céu. tinha o futuro nas mãos e a felicidade escorrendo nos olhos, que contagiava todos que ao seu redor envelheciam, presos no passado, qual o tempo no badalar dos sinos da igreja. era assim feliz por não ter teorias e nem ao menos o saber das suas existências. em suma, sem querer, não media o tempo, meditava-o. na extensão do seu sorriso fazia barquinhos de papel e adormecia indo macia no devagar das águas. era sol, quando sol fazia e chuva, quando chovia... sua alma era uma paisagem da natureza pintada por Deus. gostava do silêncio do jardim que havia junto a janela do seu quarto e era tanto, que ela podia até ouvir o parto das rosas vindo ao mundo e o respirar dos crisântemos, no despertar do dia. nada levava nos bolsos, exceto o destino e a luz de todas as estrelas, que não brilhavam mais que seus olhos de primavera...


quando a tua canção favorita já não lhe diz mais nada
e não consegues sentir o perfume de mil rosas roubadas
quando o sol em riste insiste tecer em teu rosto triste
em teu nariz molhado apontado para teu peito calado
quando já chorou tanto que não consegues distinguir
o barulho que vem dos teus olhos da chuva lá fora a cair
quando todos os poentes caem exaustos frente a tua letargia
e a vida lhe selas cílios cansada de tanta covardia

... aquela menina sonhava tanto que chegava a tropeçar nas nuvens do céu. seu nome era Esperança e nada levava nos bolsos, exceto o destino e a luz de todas as estrelas, que não brilhavam mais que seus olhos de primavera.
Arte final por Gualter Militani

... seu querer fazia versos naquele dia... dia de dançar para desviar dos pingos da chuva que brotavam das nuvens do seu rosto, dia de deixar desfalecer o tempo e no escurinho da alma sentir piscar vaga-lumes... e eram versos bons de se perder no contar da realidade em que vivia, dia que a felicidade se esquecia de passar e repouso fazia naquelas horinhas de saudades sem medo... escrevendo, era assim que se sentia... mas, no acabar dos escritos, no silenciar da última palavra, voltava a tristeza e seus olhos calejavam uma outra vez mais de lágrimas... e de lá e de cá e de lá e de cá e de lá e de cá era só mesmo este o fazer do sentido da vida, que dedilhava num quetinho só, o amor que um dia teve...

Há dias que observo...
O mundo como uma grande gaiola

E eu dentro confinado,
Como um pássaro, raquítico e triste
Que entoa um canto tísico
Em troca de migalhas de alpiste.
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... o tempo que eu pedi para você teve gosto de nunca mais... um gosto de ferrugem que passa agora nas minhas veias... veias-feito-rio-quase-lago... saber que fomos uma vida inteira que deixou de existir me deixa triste, sem vontade de anoitecer os sonhos e amanhecer o amor... foi a distância, com suas mãos de eterna passagem, que me deu a falta de você, me deu a falta do seu sorriso nuvem e do seu olhar paisagem... e a cada instante que penso em ti, minha menina, nasce em mim outonos sem eu perceber, que sentir saudades é uma forma de envelhecer calado... que sentir saudades é uma forma de calado morrer...
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O branco lençol que da noite me cubro
O prato de comida que sustento na mão
A água morna que despenca do chuveiro
As pedrinhas que chuto no chão
O copo quase vazio da cerveja gelada
E as vozes distantes das pessoas ao meu lado.
Quando nos sentimos sós tudo pesa toneladas...
São rixas de risos e suspiros...
Como o ouro que deixei para trás
Como o céu cinza riscado sem paz
Mais de quinhentas mil lembranças
Dançam sob a moleira que não se fecha
Devaneios de uma mentezinha que se apoquenta.
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Na espera do tempo, depois que caiu o último grão do meu relógio de areia,
Percebi que o amor é o fôlego da vida e que a vida é a virada da ampulheta!


E como eram tristes os seus olhos
Um palhaço sem máscara empurrando seu corpo sóbrio pelas ruas...

Calmo é o lado escuro da lua
Concreto e ferro sustentam seus edifícios de lamúrias

Oh, como é gasto o coração que expulsa o veneno do amor
Frio fica o deserto do peito depois do último pulsar da esperança...

... e como são tristes os seus olhos...



Click Anti-Poético:
Mataram a Lua com um tiro fotográfico!

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Hei, onde esta o brilho do orgulho
Em qual mergulho se atirou a fé
E em que pé
O amargo apertou?

A remela da mentira
No canto do olho
Tolo é acreditar em todo encanto

Hoje não há perguntas para suas respostas
Só,
A solidão de pé
Servindo a mesa do café.

Pesadelo vindo pelo correio,
Sempre é mais leve o arreio
No lombo alheio.

Agora é fácil acreditar no choro,
Difícil é entender o riso e reconhecer o tempo do silêncio.

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Qual quem julga os galhos ali tortos, ali desgovernados, não ouve o vento dançar as folhas da velha árvore abandonada. No traço que eu me traço, pinto descobertas, estórias que de lá de casa trago, a valer meus amigos e mais nada. Qual quem julga os galhos ali tortos, ali desgovernados, não enxerga as raízes crescerem por dentre o chão calado, sustentando firme a velha árvore abandonada. No traço que eu me traço, pinto infância, lembranças que de lá de casa trago, a valer minha família e mais nada. Qual quem julga os galhos ali tortos, ali desgovernados, não sente o perfume dos frutos caídos ao pé da velha árvore abandonada. No traço que eu me traço, rabisco sonhos que não apago, mesmo com passos tortos e coração desgovernado.

Para o olho não tem nada
Alfabeto perdido em diminuta circunstância
Sorva o cérebro jovem,
Não escapa aos olhos cegos a tristeza infinita
Epidemia sistemática da vida
É conhecido o olho morto
Cego pela lâmina afiada do desejo
O poeta criminoso tende a só
A angústia do crime perfeito
É a mais pura expressão da ansiedade
Visão única da vida, obsessão
Cegueira passional
Lágrimas de grafite
Íris de um ciclope

A gota d'água salgada.
A tensão maior d'alma.
Atenção:
Há um mundo de palavras desesperadas em um olhar mudo!
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Engendrar-te em pensamentos
Poder ver-te nascer por entre as sendas das estrelas e árvores de concreto
É como inalar a divina emoção, cheirar-te o sangue fresco
Mística atração, corpórea, visual, insinuante, sexo virginal
Anjo “fêmea”, sem asas, redonda, placenta iluminada
Xamâ das tribos enamoradas, cega os olhos refletida na pedra mar
Sangra tua luz, estupra a mente do poeta embriagado(r)
Que lhe oferece tua alma de vozes caladas
Esvair, encontrar-te, cemitério dos fracos amantes,
Cripta, cratera dos falsos falantes
Teus mares consolo de eternos, derradeiros, marinheiros errantes
Guilhotina dos antigos martires em seus últimos anseios
oferecem os próprios prazeres e suas cabeças a ti
iris, retina, pupila, olho aberto na noite
beijar tua face escura a quem timidamente mostrará
esconde-te, tanto, por isso és tão desejada e misteriosa
empalidece diante o sol, recebe tua luz, humilde ninfeta
não guarda pra ti os prazeres mas para quem te pretendes
mulher, fêmea, eterno cio, crescente, decrescente
fases de uma mesma face, cheia da orgia celestial
em sua linha circular, segura, adorna os tesões dos deuses
vozes caladas noites embriagadas
morte esperada
pra ti entregarei minha alma lunar.

... sentir saudades é transformar o tempo em paisagem... como assim também a natureza transforma, nas margens das águas, onde o rio faz silêncio...

Vivo um pouco de tudo
De quase tudo que podia viver
No final, crianças observam a morte das mães
Olhos fechados represam as lágrimas da dor
Sentimentos estaqueados,
Será que alguém, um dia, me viu triste?
.

... um pouco mais de tempo
dê-me os minutos do teu relógio adiantado
a saudade se desnuda e roda muda
no meu velho long-play riscado...

"... a preta velha tinha um largo sorriso de lua alta, com seus dedos enrugados, ela redigia seu casaco de crochê enquanto tentava lembrar daquela antiga cantiga... a preta velha tinha um largo sorriso, mas era cega, não podia enxergar o quanto a lua estava bela diante do espelho lúcido do seu quarto mudo... "_ Oh! Deus, Oh! Deus" - ela suspirava! A preta velha queria lembrar daquela cantiga, que falava da força, que citava o Sol e enquanto ela tentava e tentava e tentava, seus dedos calejados iam tecendo seu passado... velha, a cega vivia em paz, pois sua alma era nua como o sorriso da Lua... bela, a velha frio sentia, enquanto seus dedos cansados iam dançando a cantiga..."
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pretinha, oh preta
pegue seu casaco de crochê
pro vento de maio não vencer

.............................pretinha, oh preta
.........................tome essa rosa pra você
..........................e o meu sorriso largo ao te ver

............................pretinha, oh preta
o frio nunca pára de soprar
tenha meu abraço a te aquecer

oh preta

nuvens brancas nunca param de passar
os sábados não param de cantar
longos são os domingos sem você
lindos são os sonhos com você

pretinha, oh preta
dê-me o seu casaco de crochê
deixe que eu seguro pra você

oh preta

amanhã o sol nasce para vencer
e o frio só serviu pra esquecer
me dê o seu casaco de crochê
deixe que eu seguro pra você
deixe que eu seguro pra você
deixe que eu seguro pra você
...
.
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Vivemos a vida esperando
Numa ilusória utopia
Não desperdice com a tristeza
As poucas alegrias

Temos os dias de primavera
Com a chuva os amigos se perdem
Somos atores de passagem
No ato sem aplausos

Vivemos a frágil felicidade
Florescem os jardins de lápides
Logo é a hora de conhecermos a verdade
Desenrola a serpente da idade

Sentados à margem da estrada
Vivemos nossa curta vida
Precipitam imagens douradas
Do mudo crepúsculo.

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A vida é um imenso quebra-cabeça que vamos montando no minuto a minuto, o dia após dia. quando em vez, senta algum amigo do nosso lado (às vezes um desconhecido) e na ajuda, nos ensina nas descobertas, mas ele não poderá estar sempre perto e parte, na sua pessoal sina, sem que possamos obrigá-lo ou sequer esperá-lo que volte algum dia. o montar é solidário, mas o colocar das peças é solitário.
A vida é o imenso quebra-cabeça, cuja sua figura só nos é percebida quando colocamos a última peça, mas isto raramente acontece, pois quase sempre aparece um amor que, vindo de algum lugar, desmancha tudo o que já montamos e parte calado, por algum motivo, indo para não sabemos onde... obrigados pelos sentidos, recomeçamos do zero a montar nossas vidas, peça a peça, mas jamais com o mesmo ânimo... mas jamais com a mesma paixão de antes...

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Enquanto o poeta, ejaculava seu sêmen lírico
Ignorando a escuridão e a ignorância da luz
Os monges rezavam, suas verdes orações
Cercadas pela incompreensão dos vales perdidos

Os pássaros riscavam o cinza dos olhos
Sem tocar suas asas pontiagudas e afiadas
Nas pequenas pálpebras que circundam o oceano

Enquanto preparam meu célebre enterro,
As serpentes nos prometem uma vida selvagem
Divertindo às margens do riacho
Amando como as crianças
Na plena fúria do cio,
Sabendo que a vida... é promissora
Perto dos nossos próprios fantasmas.

Na lápide do poeta, havia:
Viva a vida...
Esperando o orgasmo da morte

... na verdade, todos os poetas são assassinados pelas suas almas... as mais conflitantes, inquietantes, os obrigam a se matarem, mas as mais calmas, pacientes... os matam lentamente de solidão...

Como um rio sem margens, o sangue coloria o chão de madeira do seu quarto. Corpo imóvel branco paz era só silêncio... só silêncio... e qualquer anjo que ali chegava podia ver nitidamente os sonhos do rapaz se evaporando pelos olhos abertos e estáticos... evaporando como as águas de um lago em pleno dia calmo e comum de verão.
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Consegue chegar ao céu...
Encontrando
Com os lábios
A língua
O hálito
A glote
Os dentes;
A morte
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Gostava de vê-la dormir e assim, quase sem piscar os olhos, beber em teu sono a paz, a minha paz. Todos as noites por todos os dias, dividia o silêncio ali presente com os sonhos dela que perto já iam longe, deixando para trás todas as misérias desse mundo, toda a covardia dos homens escondida nos jornais, no trânsito, nas antenas de tv. O tempo parava também para vê-la dormir, era um suspiro para sua eternidade. Nestas horas, como lembrar de Deus se até de mim eu esquecia? A fé que eu tinha era o abrir dos olhos dela, de manhãzinha, movimentando a vida ao meu redor... vida esta que amanhecia nascida sempre a cada sorriso, a cada beijo, a cada conquista nossa. Juntos.
Hoje, espero o dia envelhecer para visitá-la em um lugar onde sou obrigado a dividir um silêncio aqui ausente. Quase já nem choro mais. Trago flores não importando com o ato, está no coração o que deveria, se fé fosse salvação, estar no tocável das minhas mãos... mas não está e triste em mim tudo é no resistir dela ser passado... paisagem.
Gostava mesmo era de vê-la abrindo os olhos...
.

Acredito na garota
Que vive solta
Com o cérebro em órbita
E cara de palhaço virginal
Perdida no palco da vida
Sangue mensal
Cobre os joelhos
Dedos longos
Lâmina cega
Na carne tocada

Que bondade esta escondida atrás do seu lábio?
Que perversidade esta amostra dentro do seu sexo?
Que sedução que encerra no olho fisgado?

Acredito na garota
Que fala o alfabeto explícito dos animais
Humanamente despigmenta a alma em sais
Misticamente descarna
Os desejos insanos dos machos
Saqueia os amores profundos
Pilha as vidas conjugadas
E enterra os sêmem de plurais
Anseios em seu ventre.

.

... e essas mentiras que acreditamos enquanto ainda temos tempo de sonhar, são tão essenciais como essas verdades que inventamos enquanto ainda temos tempo de desejar... mas, no fim, o que sobra é a saudade - o último suspiro - o que respinga luz e faz silenciar mundos...
.

Cavalo coiceando a alma
De dorso selado
Narinas estateladas pelo ar da desesperança

Olhos arqueados ao grande vazio
Espaço da noite, crinas luzidias
A esconder as digitais
De dedos trágicos

Nervos delgados, retilíneo tendão
Íntegro impacto
Parte, o som intrínseco
Música diferente, ecoa dos cascos
Antes libertos
Agora ferrados

.

O que sobra aos outros...
se toda sedução da loucura
abriga-se em minh’alma.
O que resta...
se todos os outros
infestaram a última fresta.
O que ofereço aos outros...
A não ser a última luz
que se apaga na festa.
A quem se entregar...
se os últimos inimigos
me renegam.
Dilacerar, rasgar
Desarticular a paz
E multiplicar o caos
Terreno fértil
Para os sabás
.

Conduza-me à transitividade do amor,
e faça pretérita a tua pobre contrária rima!
Re-cria-me direto o que por direito for!
Re-cria-me inventor de novos léxicos!


Sonhar-te-á!
Sonhar-te-á!
Sonhar-te-á!


Em terra firme dar-me-ei à magia da contemplação,
quando sentir ladrilharem as palmas das minhas mãos!
Vida?
Vida?
Ouça meu apelo de coração aberto:
Conduza-me à não intransitividade dos verbos!

.

Abraça-me agora.
Não digas nada.
Tanto faz...

Se é mar ou se é enseada.
Se é partida ou se chegada.
Se é caminho ou caminhada.

Abraça-me apenas.
Tanto... tanto... tanto...
E não digas nada.
Tanto faz.

.

Os olhos são portais
Que deixam transparecer os desejos
Como o mais límpido lago
Que nos leva ao inferno

Mostrando os pecaminosos pensamentos
Engendrados na virgem mente
Cerram-se as pálpebras mortais.
.

... tentar esquecer uma pessoa, a quem se ama, é fazer do sorriso dela um barquinho de papel... e assim, cuidadosamente, colocá-lo no rio para que a correnteza o navegue, bem devagar, mas para sempre longe da gente...
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arrebentei minha alma com um grito primitivo
e nos meus olhos ficaram fragmentados, deveras,
todos os versos meus que não foram colhidos
e o verde de todas as minhas primaveras...
.

Conservados fixos na vertical
Os esteios, os montes
Os espantalhos e seus corvos
As cruzes e as pirâmides,
Dos belos funerais
E os dizeres com suas lápides.

Conservados fixos na horizontal
As pontes, os mares, os cadáveres
E o pôr-do-sol imortal

Conservados fixos represados
Os lagos, o amor, a urina, os pensamentos
Coágulos do cérebro...
A essência da alma.

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... breve é o tempo entre nossos dedos. tudo um dia vira saudade. pequena dor essa quase sempre inesperada e passarim que abre asas já fez seu passado. os mais belos poemas são aqueles que, perdidos, estarão pelos caminhos que ainda vamos pisar. breve é a morte entre nossos lamentos. tudo um dia vira miragem. pequena dor essa quase sempre sem rimar e passarim que abre asas faz paisagem no ar. breve é a vida entre nossos medos. tudo um dia vira paisagem. pequena dor essa quase sempre sem pensar e passarim que abre asas fica preso a liberdade. às vezes para muito cantar, e outras, só mesmo para amiúde se calar.
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