... são de saudades que se fazem os outonos...

... se colhe nuvens do chão para preparar a enxergar cor no canto dos passarinhos... se faz saudade porque dentro de um poema já não cabem mais todas as tristezas do mundo...

... me desaponto em mim e percebo que apesar de tantos outonos ainda consigo lembrar das flores do nosso jardim... ainda pude juntar alguns versos que caíram dos teus cabelos...

... são de reencontros que se fazem as primaveras...


E a combustão do caos, que fagulha intelectual, a atiçará?
E a fala cômica do palhaço mímico, em qual nave auricular ecoará?
E o aplauso dos aflitos, neste teatro de piedades, aconteceria de pé?
E o rato salteador de amores, onde roerá?
E a peçonhenta serpente da inveja, sem muda de pele e de bote silencioso,
onde inoculará?
E a vizinha em dança cínica, perfeita bailarina no coito, onde insinuará?
E o lobo de sorriso lascivo, o charme é sua armadilha e a solidão sua virtude,
qual a presa que virá?
E a mãe com sua crença crítica, edificando templo de fantoches, a que deuses oferendar?
E a palavra na crosta seca do céu da boca do sábio, quando brotará?
E o homem tradutor da vergonha, com sua pena e tinta já encheu mais mil pergaminhos,
e seu compêndio servirá?
E a lança da coragem em riste, em qual coração deve cravar?

E a cachaça que arma a tenda de todo este circo, nem precisa purificar!

dedicado a J.M.


queria um pouco do que escrevia,
para que pudesse recompor toda a força da sua infância
mesmo não sabendo quando... se entre versos ou rimas
ou se no silêncio daquelas reticências
medida do tempo que agora vivia...

por não saber se algum dia conseguiria
é que ele continuava sempre a escrever...
escravo do tempo, do silêncio e da beleza do rosto daquela mulher...

...mesmo que ainda tenha de fundo um plano reto
até os dizeres mais corretos feitos de carvão
se entortam quando escritos sobre um muro de chapisco...

.
.
.
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.. ela não pingava os is e sempre dizia:
"... já que nasci louca,
que eu morra então poetisa..."



.

...como se fosse um anjo caído de um sonho cálido
Anjo de grandes lábios roxos e possuidor de ancas em deleite...

Pairando assexuadamente em um céu de olhos róseos...
com toque que mescla a amargura do amanhecer e a orgia explicita no crepúsculo
eram digitais sem ex(impressões)

... como se fosse tirana...por vingança desceu à terra...

E seus pés tocaram a grama do jardim da salvação, calmos como o olho do furacão
vagou em trejeitos lascivos com a boca aberta e a espreita

... como se fosse pura...para se sujar colheu a flor da perdição...

Bem vinda ... noite
Espectro de charme e matizes misteriosos,
que envolve como chuva ácida,
descaracterizando o caráter, a razão e os desejos.
.

pinte um sorriso e discretamente
esconda a tristeza que sangra
por entre as fileiras dos teus dentes

Ela foi fundo nas ruas da cidade baixa
Perdeu-se, de joelhos, como uma gata cega e prenhe de desejos
Fuçou os lixos das mansões entristecidas
Descolou a retina no salto além da luz
Miou alto dentro das orgias
Caprichosamente se banhou entre línguas

Não se iluda! Nas madrugadas etílicas todas as gatas são pardas...
E suas verdades elas enterram em suas caixinhas de areia... pela manhã.

.
.
.
.
Sujeito: - é possível, amigo, reconhecer quando o amor acaba?


Qualquer: - e serás possível, meu amigo,
tu me dizer quando é que ele começa?

.
queixa você da vida
queixa você do amor
quando nada disso prende tua atenção,
queixa você dessa canção...
qual pedra rola ladeira
se desfazendo a si mesma
e de qualquer certeza
do que venha a construir.

quede seus sonhos?
que de tantos, se perderam...

talvez estejam perdidos

(esquecidos)
talvez, quem sabe, dormindo
ou se procriando
(dentro de outros sonhos amanhecidos)

quede seus sonhos?
que de tantos, se renderam...

quireras para a sua história
novos sonhos neste mundo estranho.
muito além das suas intenções,
e do que é capaz de entender e aceitar seu coração...

quede agora seus sonhos?

Bebemos a água da nascente
Com a concha que construímos com nossas mãos
Bebemos a água da nascente
Tocamos a vida...
Que nasce eterna por entre nossos dedos
Bebemos o segredo dos homens
Sem ao menos desejarmos tal coisa
Bebemos a sede da nascente
Que corre eterna por entre nossas vidas
Tocamos a água...
E bebemos a sede dos peixes.

E na margem dessa fonte,
Há uma sempre flor qualquer que nasce e morre,
Sendo e nunca deixando de ser exatamente o que é.

... saudade é que nem verso torto,
só se ajeita com reticências...

A cada giro da Terra eu conto um dia
Pensando em como seria bom ter outra vida
Eu vejo o mundo pelos olhos estropiados
Boca torta, barba por fazer, perfume barato
O mundo não pára quando a gente pende a perder
Viver é apostar, é impar vermelho.

Em uma caixa de sapato guardo meu amor
E meus sonhos cansados em outra de isopor
Meu silêncio é um grito acumulado
Presente de todos os dias dos dados
Presente da vida de quem não tem o que fazer
Viver é perder, é impar vermelho.

Mas eu continuo vendo o mundo detrás do espelho
Procurando no inverso alguém que me pareço
E enquanto eu tento enganar o tempo
Vivendo sozinho como estou vivendo
Seguro os dados e os lanços para frente
Viver é um vício, é impar vermelho!

... fecho os olhos e os vejo brincando no meu quintal,
repetindo minhas manhãs
feito cantar de passarim quando pega gosto de voar
quando chega a noite,
a lua desassustada sai debaixo de algum girassol
só para cobri-los serena com o manto das estrelas...

.
Horas, dias, anos,
Um pouco, mas bem pouco, de eterno
Quase sempre só,
E só, procurando sempre... um herói
E tentando transformar quem quer que fosse, ou que acreditasse que pudesse ser, ou que a esperança achasse que seria...
E nunca, nunca eles foram...
Não por incompetência deles

PAI, AVÔ, JESUS, JIM, NIETZCHE,...
E tantos outros a quem entregamos a culpa, o medo, frustrações, decepções, ou todo o nosso fardo ou tudo que nos limita,
E que eles, heróis
se encarregassem de nos libertar

Tantos anos à procura
Tantos anos decepcionado
Houve entrega, crença.
E os heróis
Sempre e sempre falhando

Houve tempos que excomunguei um por um
Na tristeza ou na essência da incredulidade
Mando a merda todos os heróis...

Estanquei a procura, matei-os
Transformei no maior arquiinimigo

Iniciei a gestação meu “EU” herói

Assim me vinguei mais feliz
E consigo caminhar sozinho
Com as minhas glórias.


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